Diferença entre o cérebro humano e outras espécies
O que torna o cérebro humano diferente

O que torna o cérebro humano diferente das outras espécies

Considera que o que torna o homem diferente das outras espécies é a empatia? Já aviso de antemão que está errado. Se acredita que seja a linguagem ou a capacidade de construir feitos, também está enganado.

Há inúmeras espécies que possuem técnicas sobre engenharia e mudam estruturas de acordo com as suas necessidades, como formigas e abelhas, são exemplos.

Outras usam a linguagem e elaboram o seu próprio método linguístico para troca de mensagens comunicacionais ou no entretenimento, entoando melodias harmoniosas, como fazem as baleias e inúmeras espécies de pássaros.

Não é a empatia, não é a linguagem e não são as transformações geradas. Então o que torna o comportamento e biologicamente, o cérebro humano diferente?

Chimpanzés têm empatia e senso de justiça

A tese de que o que diferencia o humano das outras espécies sendo o fator de envolvimento emocional, já foi refutada há algum tempo em pesquisas. Em particular, por um estudo realizado pela Nature Communications, com a participação do neurocientista Christopher Petkov e o seu grupo da Universidade de Newcastle.

A aversão à desigualdade e senso de justiça é um comportamento que foi demonstrado em pesquisas no macaco prego marrom. Quando percebiam que as recompensas eram maiores para aqueles que tiveram menor esforço, existiu o comportamento de recusa ao continuar com a tarefa.

Mecanismos neurais da linguagem

Ao imaginar a diferença entre o comportamento humano e de outras espécies, a fala, leitura e elementos que incluem a linguagem são lembrados. Afinal, os humanos falam, escrevem livros complexos, dialogam sobre suas próprias obras.

Mas no processamento neurobiológico, por exemplo, entre humanos e primatas como macaco rhesus, existe uma região predominante no processamento da linguagem “artificial”, o córtex opercular frontal, um substrato neural importante conservado evolutivamente.

A pesquisa foi realizada com apoio de uma espécie de linguagem artificial computadorizada, apresenta uma sequência de palavras que fazem ou não sentido. Esse estudo não avalia habilidades específicas da linguagem entre humanos e macacos, mas sim o funcionamento neural por trás das interpretações de ambos.

Esse tipo de estudo amplia  o entendimento mais profundo sobre a linguagem humana, a preservação evolutiva e de que as habilidades específicas da linguagem podem estar muito além dos substratos neurais.

Não somos tão diferentes quanto pensamos, mas é um fato de que não somos iguais e em alguns pontos específicos de funcionamento neural, isso fica mais evidente.

O tamanho não faz diferença, mas sim a conexão

Já existiram pesquisadores que defenderam a ideia de que o tamanho do cérebro humano fosse o seu grande diferencial, como o neurologista Arthur Keith no século XX.

Em um passado ainda mais distante, no século XIX, as características físicas do crânio eram consideradas para avaliar personalidades. O defensor da frenologia, o nome desse tipo de pseudociência, era o neurologista Franz Joseph Gall.

Com a evolução dos exames de neuroimagem e avanço das pesquisas em neurociências sobre o funcionamento do cérebro, essas ideias foram totalmente desconsideradas.

O cérebro humano é maior do que o cérebro dos primatas, seu antepassado mais próximo, porém é menor do que o cérebro do elefante e o do golfinho, por exemplo.

Numa avaliação mais aprofundada sobre o funcionamento do cérebro humano é constatado que não se trata de volumetria, tamanho, o diferencial, mas sim no funcionamento neural, sobretudo com apoio de células específicas, como a microglia.

A microglia é uma espécie de célula imunológica que está presente em outras espécies, mas a que se desenvolve em humanos, apresenta características diferentes. O seu envelhecimento é diferenciado, por exemplo, tornando-se foco de pesquisa para entendimento das doenças neurodegenerativas.

Ela está envolvida em inúmeras atividades complexas por trás lesões e infecções, sendo amplamente estudada para compreensão de quadros envolvendo Alzheimer e Parkinson. O papel da microglia é “inspecionar” o ambiente, remover neurônios deficientes ou renovar agentes causadores de inflamações, através de um processo chamado de fogacitose, comum entre células de defesa.

A microglia pertence às células da glia, junto com astrócitos, oligodendrócitos e células Schwann, consideradas células de suporte aos neurônios, tanto na renovação celular, como nas conexões.

Outro ponto notável sobre a atividade neural é a maior complexidade de conexões no córtex pré-frontal, considerado o CEO do cérebro e o centro da tomada de decisões, além de avaliações cognitivas mais complexas.

Quanto maior a inteligência, aumentam as chances de transtornos mentais?

Essa hipótese tem evidências bem validadas em pesquisas, principalmente quando comparamos características do funcionamento neural na escala evolutiva entre humanos e o primata próximo vivo, o chimpanzé.

O tamanho maior do cérebro humano ao comparar com os primatas está relacionado ao aumento da conectividade intra-hemisférica – entre os hemisférios cerebrais – exigindo uma dependência dessa conexão complexa, evolutivamente.

Descompassos nesse conectoma, na fixação da conexão cerebral, diminui a eficiência da comunicação neural, principalmente as consideradas de alta complexidade cognitiva.

A esquizofrenia é uma doença que é amplamente afetada pela conexão, por exemplo. Há evidências bem contundentes de que a doença enfraquece a conexão entre hemisférios fundamentais no cérebro, afetando diretamente o processamento cognitivo, senso de realidade, regiões motoras, provocando delírios e outros comportamentos que afetam a qualidade de vida e socialização da pessoa.

O funcionamento complexo do cérebro humano exigiu uma corrida evolutiva no processamento que pode ter dado alguns “curtos” ao longo do caminho. As pesquisas aprofundadas nesse sentido auxiliam principalmente na compreensão sobre as doenças que atingem seres humanos e não outras espécies.

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