Demência afeta principalmente as classes médias e baixas, triplicará os casos na América Latina

Cerca de 1,76 milhões de pessoas enfrentam  sinais de  demência no Brasil e esse aumento ocorre mundialmente por conta do aumento da longevidade na população. 

Até 2050 estima-se o aumento para 2 bilhões da população idosa, tornando-se 22% da população. 

Envelhecer é diferente para cada pessoa, a ciência já compreende isso a partir de pesquisas consagradas como exemplo o Nun Study, uma pesquisa longitudinal com freiras idosas, grupo controlado e com o estilo de vida muito semelhante. 

Foi constatado que os sinais de demência, por exemplo, já poderiam ser observados a partir da escrita, as freiras cultivavam o hábito de relatar suas rotinas em um diário. Quanto maior era a riqueza vocabular e sintática, menor eram os efeitos da demência. 

A educação, leitura e escrita gera no cérebro uma espécie de ‘reserva cognitiva’ e protege as células nervosas contra o declínio cognitivo, embora estruturalmente a degradação seja visível na estrutura do cérebro, como demonstrou neste estudo. 

Essa é uma das principais pesquisas no mundo, até hoje, sobre neurodegeneração e demência, evidenciando a importância de um estilo de vida saudável, principalmente a nível educacional como método de prevenção às deficiências neurodegenerativas provocadas pelo envelhecimento. 

De acordo com uma pesquisa realizada pela fapesp, a demência não afetará os países de maneira homogênea, mas principalmente as classes média e baixa, os casos na América Latina irão triplicar no futuro. 

Qual a diferença entre demência e Alzheimer? 

Demência é o nome comumente usado para doenças neurodegenerativas que afetam o cérebro, como Alzheimer sendo o tipo de demência mais comum, mas existem outras, a demência vascular, demência frontotemporal, demência com corpos de Lewy e demências leves e reversíveis decorrente de neurosifílis, deficiência de vitamina B12 e hidrocefalia. 

Como posso prevenir ou retardar os sintomas de demência? 

O comitê permanente da revista The Lancet, uma das revistas científicas mais relevantes do mundo, reúne medidas de intervenção e cuidados com a demência, além de estratégias que podem amenizar o problema. 

Existem os principais fatores que estão relacionados com as demências, dentre eles estão questões que envolvem baixo nível de escolaridade, obesidade, diabetes, hipertensão, sedentarismo, abuso no consumo de álcool, são influências significativas na saúde e funcionamento do cérebro. 

A baixa escolaridade, por exemplo, significa uma vida com pouco estímulo cognitivo, existem evidências sólidas de que a aprendizagem contínua, o hábito de ler, escrever, além de modificar padrões neurais, fortalecem a atividade de neurônios da Glia, por exemplo, que ajudam a nutrir e proteger a atividade dos neurônios, inclusive de danos que podem estar associados à demência. 

Além do reforço cognitivo, a atividade física regular é considerada um neuroprotetor para o cérebro. Caminhadas e exercícios aeróbicos de baixo impacto, a longo prazo, são práticas associadas à neurogênese, formação de novos neurônios no cérebro, com isso, maior proteção contra danos provocados por doenças demenciais. 

Desafios para cuidadores 

A demência é uma doença que envolve toda a família por conta da dependência que ela gera. Principalmente entre as famílias que não têm condições financeiras de pagar pela ajuda de um cuidador particular, essa tarefa pode ficar sob a responsabilidade dos filhos ou o parente mais próximo, geralmente, uma pessoa fica mais sobrecarregada. 

No contexto de demência o apoio ao doente e ao cuidador, são ambos de igual relevância. A psicoterapia para o familiar que cuida, além da socialização e carinho das pessoas próximas são redes fundamentais para conviver com a situação de maneira mais leve possível, preservando pela saúde mental, além de através da psicoterapia, construir bases cognitivas e emocionais para enfrentar a situação e se fortalecer diante dos desafios. 

Nutrição indicada para idosos com demência

A nutrição indicada para pessoas com demência ou mesmo preventiva, envolve uma dieta saudável, com ingestão de fibras e proteínas magras. Existem estudos com resultados significativos indicando a dieta mediterrânea, rica em oleaginosas, azeite e peixes. 

O ideal ao se tratar da dieta da pessoa que tem demência, a consulta com um nutricionista, pois existem restrições e quadros específicos, como por exemplo as comorbidades, doenças envolvidas, alergias, que podem eliminar o consumo de certos nutrientes encontrados em dietas específicas. 

A dieta ideal é a que atende as necessidades nutricionais da pessoa, levando em conta a idade, eventuais deficiências que possam existir e até mesmo a necessidade de suplementação, sobretudo entre os idosos. 

Principais mitos envolvendo a demência 

Mito! O envelhecimento pode causar lapsos de memória leves, mas a demência é uma doença, não uma consequência inevitável da idade.

Mito! O Alzheimer é o tipo mais comum, mas existem outras formas de demência, como a demência vascular, a demência por Corpos de Lewy e a demência frontotemporal.

Mito! A maioria dos casos de demência não é hereditária. Apenas algumas formas raras têm forte influência genética.

Mito! Hábitos saudáveis como atividade física, alimentação equilibrada, estímulo cognitivo e sono adequado ajudam a reduzir o risco.

Mito! Exercícios mentais são benéficos, mas não suficientes sozinhos. O ideal é combinar desafios cognitivos com atividade física, socialização e boa alimentação.

Mito! Com os devidos cuidados, muitas pessoas com demência podem manter rotinas sociais, praticar atividades físicas e participar de terapias ocupacionais, o que melhora a qualidade de vida.

Mito! Embora mais comum em idosos, a demência pode surgir antes dos 65 anos (chamada de demência de início precoce).

Mito! No início, muitas pessoas percebem as mudanças na memória e no raciocínio, o que pode gerar ansiedade e depressão.

 

Referências:
  1. Ao menos 1,76 milhão de pessoas têm alguma forma de demência no Brasil
  2. Healthy ageing in the Nun Study: definition and neuropathologic correlates
  3. Diet in the Prevention of Alzheimer’s Disease: Current Knowledge and Future Research Requirements
  4. Comprehensive Review on Alzheimer’s Disease: Causes and Treatment

 

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