
Entenda o que faz as principais áreas estudadas em neurociências
São inúmeras as áreas estudadas em neurociências, logo o funcionamento cerebral e do sistema nervoso são bases para gerar compreensão sobre o comportamento humano, descoberta de padrões neurais por trás de doenças graves, além de fornecer insights para construção de inteligências artificiais, inspiradas no funcionamento do cérebro.
As neurociências é uma área de pesquisa que envolve o trabalho multidisciplinar, pois fornece informações valiosas para aprimorar a prática clínica do psicólogo, psiquiatra ou na sala de aula, trazendo referências sobre como o cérebro aprende melhor e ampliando as possibilidades de ensino e aprendizagem.
Conheça alguns dos principais campos estudados nas neurociências e o trabalho do neurocientista em cada setor.
Neurociência Cognitiva e Comportamental
A neurociência cognitiva e comportamental investiga os mecanismos neurais que são pilares para reforçar determinados comportamentos, tanto em nível celular, neuronal, de estruturas específicas, assim como as conexões realizadas e padrões que se formam.
Através desse tipo de pesquisa, por exemplo, é possível compreender quais são as estruturas e padrões neurais por trás de escolhas complexas (que exigem maior avaliação) e escolhas corriqueiras ( do dia a dia). Para cada comportamento, o cérebro utiliza de sistemas específicos, formando novos padrões.
Entender os padrões por trás do comportamento humano auxilia fundamentalmente a tornar as nossas escolhas, decisões e reflexões mais conscientes e não só instintivas.
As funções cognitivas são bastante amplas, incluindo a leitura, memória, aprendizados diversos que vão desde a matemática, física, línguas, até tocar um instrumento. Todos esses potenciais cognitivos exigem processamentos específicos à nível celular, de neurônios específicos e estruturas envolvidas.
O que faz um neurocientista cognitivo?
Ele investiga o cérebro humano sobre os principais mecanismos por trás de determinados comportamentos. Utiliza metodologias específicas como exames de neuroimagem, eletroencefalografia e outros, para observar tais padrões e após, checar os resultados em relação a sua pergunta (hipótese) investigativa.
O profissional irá identificar a localização e contextos em que os neuronios são mais ativos, de acordo com o seu tipo. As regiões mais ativadas, além das conexões por trás de cada comportamento, se serão mais difusas, exigindo a atividade de inúmeras estruturas, ou se possuem uma conexão mais específica, sem exigir de inúmeras áreas.
Neurociência Social
Diferente da neurocienciência cognitiva, a neurociência social investiga contextos com mais pessoas e busca compreender a existência de padrões neurais que podem moldar o comportamento de grupos.
Os seres humanos são altamente sociáveis carregando essa marca em sua evolução. Os sistemas sociais oferecem ferramentas para compreender sobre a evolução do comportamento humano, porque nos comportamos de determinadas maneiras em diferentes contextos, além da forte influência cultural nesse cenário.
Como a nossa dinâmica social, por exemplo, afeta o corpo físico humano? Você sabia que a chegada de um bebê em casa modifica não só os hormônios maternos, como os pais também passam por alterações hormonais, sendo preparados para proteger a prole.
Quais são os impactos do isolamento como ocorreu no cenário da pandemia, é outro exemplo de pesquisa realizada pela neurociência social.
O que faz um neurocientista social?
Estuda a relação do corpo humano, fisiológica e biológica com aspectos sociais diversos, tanto estruturas familiares, contextos sociais específicos em uma escola, bairro, igreja, comunidade ou cultura.
O neurocientista social tem o objetivo de encontrar possíveis atividades neurofisiológicas, fisiológicas ou padrões comportamentais que estão incutidos em um grupo, não necessariamente de pessoas, mas de outras espécies. Isso ajuda a compreender razões neurofisiológicas por trás de conexões de pertencimento, nojo e repulsa, preconceitos e outros sentimentos e condutas comuns aos humanos.
Mais uma vez, é importante entender sobre isso para que executemos escolhas, seja na política, propaganda ou para a própria vida, consciente dos estímulos e seus impactos em grupos.
Neurociência Clínica
A neurociência clínica como o nome já diz, auxilia profissionais que atendem pacientes em um contexto clínico de diversas áreas, incluindo a psicologia, fisioterapia, psiquiatria, neurologia e outras. As descobertas da neurociência clínica são focadas geralmente em doenças específicas e seu amplo funcionamento molecular, genético, celular ou estrutural.
Nas neurociências clínicas, o neurocientista geralmente seleciona uma área da pesquisa muito específica para aprofundar-se e poder oferecer resultados significativos para mais descobertas em relação a uma doença complexa, doenças neurodegenerativas como Parkinson ou a Demência, por exemplo, além dos transtornos mentais como a depressão, ansiedade, esquizofrenia e outros.
O que um neurocientista da área clínica faz?
Geralmente o neurocientista clínico atua especificamente na pesquisa e não trata pacientes, oferece através da pesquisa uma compreensão mais clara sobre a doença para o profissional que atue na clínica possa incluir em sua prática.
Avaliam dados sobre a atividade neural, funções do sistema nervoso, estruturas envolvidas e conexões por trás de um contexto clínico específico, seja ele de ordem motora, cognitiva ou comportamental.
Para compreender o comportamento e o efeito de terapias com maior clareza, também utiliza na metodologia pessoas doentes e indivíduos saudáveis para realizar comparações e identificar potenciais efeitos.
Neurociência Educacional
O setor de neurociência educacional é voltado para a área da educação, ensino e aprendizagem. Esse campo da pesquisa oferece as melhores abordagens para a sala de aula a partir de como o cérebro e sistema nervoso funcionam.
Existem mecanismos específicos, por exemplo, por trás da aprendizagem da matemática, idiomas, símbolos e demais figuras da linguagem. Além de transtornos que podem gerar dificuldade em cálculos, como é o caso da discalculia.
A neurociência educacional atua não só oferece abordagens para o ensino nas escolas, mas colabora com o trabalho de psicólogos, neuropsicólogos e psiquiatras, apresentando uma visão mais clara e sistemática sobre o funcionamento do cérebro em situações de transtornos que afetam a aprendizagem como o TDAH, dislexia, autismo e outros.
O que faz um neurocientista da área da educação?
O neurocientista da área da educação pode atuar em diferentes abordagens como a linguagem, ensino e aprendizagem, processamento sensorial na aprendizagem, práticas de ensino voltadas ao professor, trazendo abordagens que podem funcionar melhor com apoio das pesquisas e podendo serem testadas na prática.
Esse é um setor que vem crescendo significativamente nos últimos anos, de extrema relevância para a formação e educação das crianças com base nos avanços do entendimento sobre o cérebro.
Neurociência do Desenvolvimento
Neurociência do desenvolvimento é uma área que estuda a formação do cérebro, desde de sua fase embrionária, por exemplo, ainda no processo de gestação, além do seu amadurecimento ao longo da vida.
As pesquisas da neurociência do desenvolvimento são realizadas com vertebrados e invertebrados e funções amplas do sistema nervoso.
Nesse caso, os neurocientistas interessados no desenvolvimento cognitivo irão avaliar como a tomada de decisão muda em diferentes fases da vida, mecanismos por trás e efeitos provocados pelo amadurecimento do cérebro e de processos mentais.
O que um neurocientista do desenvolvimento pesquisa?
Um ponto focal do neurocientista que atua na área do desenvolvimento são as avaliações acerca do cérebro em idades diferentes e como o comportamento, aliado a maturação do sistema nervoso são modificados em cada fase da vida.
É sabido que o processo completo de maturação do cérebro humano, a mielinização, é finalizada por volta dos 25 anos de idade. Mielina é uma barreira lipídica que recobre os neurônios e são de extrema relevância para a nutrição, fortalecimento da condução elétrica entre os neurônios e funcionamento saudável da atividade neural.
A substância branca, como a mielina também é chamada, é de extrema relevância para as regiões corticais do cérebro humano, sendo elas essenciais para atividades cognitivas, desde simples às mais complexas.
Neurociência Afetiva
Na neurociência afetiva a pesquisa é sobre os fatores bioquímicos, fisiológicos e hormonais que estão por trás das emoções. Estruturas e substâncias bioquímicas são mecanismos subjacentes aos sentimentos como a raiva, amor, alegria e entusiasmo, logo os cientistas desse setor investigam esses fatores em animais humanos e não humanos e o que está por trás dessas respostas.
Existem as emoções básicas como a raiva, medo, nojo, supresa, felicidade e tristeza e além dessas, têm as emoções mais complexas que envolve a consciência e também questões sociais, alguns exemplos: inveja, orgulho, admiração e culpa.
O que um neurocientista da área afetiva pesquisa?
Avalia qual é a ativação e atividade por trás das estruturas neurais a partir de reações emocionais provocadas. Descobrir esses sistemas ajuda a compreender a bioquímica por trás do estresse, por exemplo, e além do comportamento, quais são os malefícios da carga de cortisol liberada para a saúde.
Existem neurotransmissores em destaque para as emoções e estruturas que atuam principalmente para esse objetivo como o sistema límbico, incluindo a amígdala, hipocampo, hipotálamo, corpo caloso e outros. Essas regiões são consideradas os “centros emocionais” do cérebro.
Neurociência Sensorial
A neurociência sensorial estuda os sentidos, sistema nervoso e a sua integração com o todo o corpo, como a audição, visão, tato, paladar, olfato e a pele. O neurocientista sensorial avalia amplamente como os sentidos são impactados pelo ambiente e qual é o mecanismo neuronal e no sistema nervoso que ocorrem durante essas atividades.
Esse tipo de pesquisa é muito importante para o desenvolvimento de terapias na área da clínica, por exemplo.
A partir do momento em que se entende que a interpretação dos sentidos ocorre com o apoio de uma atividade neural, em casos de lesões, traumas, derrames, é avaliado quais são os mecanismos por trás e como os exercícios como a fisioterapia ou fonoaudiologia podem atuar e apresentar resultados positivos e de recuperação. A atividade neuronal é plástica, podendo utilizar de mais estruturas e novos mecanismos para melhorar uma função que fora prejudicada por um trauma ou doença.
O que faz um neurocientista da pesquisa sensorial?
O neurocientista sensorial também atua principalmente para descobertas importantes para a clínica, tratamento e reabilitação. As pesquisas voltadas ao processamento sensorial abarcam amplas áreas como a fisioterapia, fonoaudiologia, oftalmologia e outras relacionadas ao processamento sensorial e do sistema nervoso.
Problemas de processamento sensorial podem afetar pessoas após um acidente vascular cerebral ou autismo, por exemplo, envolve atividade neuronal diferenciada e que requer terapias para auxiliar na socialização e qualidade de vida.
Neurofisiologia
A neurofisiologia é um setor das neurociências que investiga não só a atividade neuronal, mas de todo o complexo sistema nervoso. Geralmente essa área é composta também por médicos neurologistas que se especializam em neurociências e além da clínica, podem atuar também na pesquisa.
Essa área pode atuar na elaboração de próteses, por exemplo, descobertas de vacinas para doenças como tumores cerebrais ou mecanismos por trás de lesões após um acidente vascular cerebral.
O que faz um neurocientista da área de neurofisiologia?
O neurocientista que atua na área de neurofisiologia irá investigar as atividades neurais e do sistema nervoso por trás de traumas e doenças diversas como o Parkinson, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e outras que possam afetar o sistema nervoso.
Descobrir os mecanismos por trás e como são afetados por essas doenças, direciona sobre os melhores tratamentos, medicamentos e até o desenvolvimento de vacinas, se for o caso. Essa área é de extrema importância para a clínica da neurocirurgia.
Neurociência computacional
Faz o uso da modelagem computacional e da matemática para estruturação dos padões de como o cérebro funciona. A neurociência computacional é hoje aplicada a diversas áreas de pesquisas em neurociências, pois possibilita a organização vasta sobre os dados da atividade neural e do sistema nervoso.
A neurociência computacional oferece uma interpretação lógica sobre os neuronios e formação de redes no cérebro, auxiliando na aplicação prática dessas descobertas em outras áreas como a cognição, comportamento, memória, desenvolvimento de próteses e outros.
O que faz um neurocientista computacional?
O neurocientista computacional utiliza o que é chamado de modelo cérebro-máquina, um padrão computacional que imita a atividade neuronal e do sistema nervoso em diferentes contextos comportamentais, ao receber um estímulo, por exemplo.
Existem redes cerebrais artificiais que auxiliam na compreensão de como as informações são processadas pelo cérebro. Os métodos computacionais são úteis para avaliar a atividade neural em contextos como tomada de decisão, memória, atenção, reconhecimento de objetos e outros.
Esses são alguns exemplos de áreas em que as neurociências podem atuar, aliás, é “neurociências” no plural, justamente por reunir múltiplos campos que estudam setores distintos, mas que podem se complementar.
As neurociências é uma área da pesquisa multidisciplinar e que pode apoiar inúmeras áreas de atuação, ampliando o entendimento e oferecendo abordagens mais eficientes de acordo com o funcionamento do órgão que orquestra todo o funcionamento da máquina humana, o cérebro.
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