
Legado de Daniel Kahneman para a economia e comportamento
Daniel Kahneman nasceu em Israel na cidade de Tel Aviv e faleceu em março de 2024 com uma vida longeva de 90 anos. Um dos temas que trouxe destaque para a sua trajetória enquanto pesquisador, tem relação com a “Economia comportamental”, conquistando o Prêmio Nobel de Economia.
Quebrar paradigmas sobre o entendimento que até então acredita-se sobre a economia comportamental, baseada em racionalidade e análise estatística, foi um dos feitos das pesquisas realizadas por Kahneman e outros estudiosos importantes nessa empreitada.
O psicólogo e seu parceiro de estudos, Amos Tversky, deram início às pesquisas por volta de 1979 com a primeira publicação na revista Econometrica “Teoria da Percpectiva: Uma Análise de Decisões sob Risco”.
Uma infância marcada pela segunda guerra mundial e a ambivalência do comportamento humano
Passou boa parte de sua vida em Paris, na França, e seu pai era chefe de pesquisa da indústria de cosméticos L’Oreal. Era filho de judeos lituanos que, na época, tinham boas condições financeiras.
Mas a vida próspera da infância foi fortemente impactada pela Segunda Guerra Mundial, em 1940, quando a Alemanha invadiu a França.
Seu pai chegou a ser capturado e aprisionado no campo de concentração de Drancy e solto semanas depois sob a influência da empresa em que trabalhava.
Desde criança Kahneman compartilha o seu interesse pelo comportamento humano. Em entrevista, revela que adorava ouvir a conversa dos adultos, as fofocas, e que se surpreendia com as ambivalências.
Aqueles chamados de maus, nem sempre eram tão maus assim, um senso crítico voltado ao comportamento humano que já existia ainda na infância, sobre as relações cotidianas.
Outro ponto interessante foi o contexto em que estava inserido, a Segunda Guerra Mundial, é até hoje, e em toda a história, uma “laboratório” para se avaliar as múltiplas facetas humanas para o bem e o mal, e a reflexão sobre as razões pelas quais tanta crueldade ocorreu, além dos vieses cognitivos e de manipulação fortemente implantados.
Como as descobertas de Kahneman e sua equipe agregaram para a economia?
Sem considerar o comportamento humano, as estimativas econômicas presumiam que as pessoas tomavam decisões com base na lógica e nos números, mas na prática, ocorre totalmente o contrário.
A crise econômica e imobiliária com a bolha dos títulos hipotecários em 2008, nos EUA, é um exemplo de que ao assumir os títulos as pessoas não tinham realizado nenhuma avaliação pautada na lógica e estavam pautadas no que o pesquisador chama de “excesso de otimismo” sobre o futuro.
Afinal, quem nunca se empolgou com as compras parceladas no cartão de crédito e pensou: “Eu vou trabalhar e posso pagar no futuro, sem nenhum problema”. Se identifica?
O cérebro humano não é tão bom em fazer previsões lógicas sobre o futuro e não toma decisões com base nessas previsões, mas sim em outros vieses dominados por sensações momentâneas e que desconsideram imprevistos ou danos a longo prazo.
Kahneman e sua equipe trouxeram à tona que a mente humana possui dois mecanismos em funcionamento. O sistema 1 é rápido e intuitivo, enquanto o sistema 2, é lento e toma decisões de forma mais analítica. Essa avaliação e pesquisas muito interessantes foram compartilhadas no livro “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”.
Geralmente, podemos usar um mecanismo ou outro, mas isso vai depender bastante do controle que se tem em relação a esses impulsos.
Trazer o conhecimento sobre esses sistemas mentais impactam não só para uma visão mais comportamental de como os cenários econômicos afetam a vida das pessoas, mas também como as decisões cotidianas da vida humana são influenciadas por vieses cognitivos e escolhas nem sempre conscientes.
A mente humana é uma máquina de criar histórias convincentes para as decisões escolhidas e é de suma importância a compreensão de que naturalmente, o cérebro humano tende a seguir vieses e tomar decisões por caminhos nem sempre tão lógicos quanto pensamos.
Na vida econômica e decisões nesse âmbito, o sistema lento precisa tomar à frente para que escolhas mais seguras sejam tomadas, considerando o longo prazo.