Jornalismo e neurociência no Brasil

Jornalismo e neurociência no Brasil

Durante a especialização em Neurociência que fiz na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), escrevi o capítulo de um livro sobre aspectos da neurociência na educação do Brasil e em outros países, como Estados Unidos. Em qual passo o país está, como poderíamos formar uma rede entre educação, educadores, e cientistas?

No Brasil, por exemplo, mais de 80% dos alunos do ensino médio de uma escola da rede pública no Distrito Federal, não identificou a neurociência como uma matéria que pertence à ciência biológica e humana, pois nunca tiveram contato.

Nunca ouvi falar sobre o cérebro na escola e pouco ouvi falar em toda minha vida

Houve um momento em que estava desmotivada com a mesmice do jornalismo no Brasil, não me identificava com nenhum veículo. Tive uma crise de identificação com a profissão que escolhi. Nunca sonhei com o glamour da TV e as repetições noticiosas. Então por que eu estava ali?

Costumo dizer que há ideias que ainda vão existir. São terras a serem descobertas. Essas terras ‘mentais’ há em todo ser humano, basta ouvirmos e nos dedicarmos a esse impulso que vem da criação, que também chamamos de intuição, insight.

Resolvi me dedicar a esse tipo de assunto com um único objetivo: apresentar para todas as pessoas, independente do nível de instrução, como funciona essa máquina chamada cérebro, o que você precisa saber sobre ele e como esse conhecimento impacta na saúde e cotidiano de qualquer indivíduo.

O cérebro está em tudo, participa de todas as atividades que executamos, além de inspirar a criação das tecnologias que fazem parte da rotina de qualquer ser humano.

Aprender sobre o cérebro, o mínimo, o básico, e se assim desejar, se aprofundar, é utilidade pública e o caminho que encontrei para continuar no jornalismo.

Percebi também uma dificuldade entre os cientistas em decodificar os achados de maneira menos técnica, já o jornalista, conseguir o equilíbrio entre tornar o tema atrativo e ainda assim respeitar o achado, o fato. Muitas vezes, não é sensacionalismo proposital, mas ausência de conhecimento sobre um assunto que é novidade para boa parte da população.

Além de clarear sobre o tema através de uma linguagem acessível, pretendo mostrar para as crianças e adolescentes, que eles também podem escrever sobre ciência de maneira atrativa e contextualizada. Percebi que as pessoas em geral são curiosas sobre o cérebro e isso é animador.

Jornalistas podem respeitar achados científicos, interpretar dados com lógica, mesmo sem dominar ou gostar de matemática. Hoje as máquinas já calculam, a única coisa que precisa fazer é aprender a pensar logicamente e não ser levado pelo senso comum.

Tudo isso qualquer ser humano pode desenvolver se assim se dedicar, não é complicado, só não tivemos a educação apropriada para pensar de maneira crítica, usar a lógica e a razão como recurso para resolver diversos conflitos, seja de ordem acadêmica ou na própria vida.

Já pensei em mudar de profissão, mas me convenci de que o Brasil precisa de mim, da gente. O país precisa de pessoas comprometidas em espalhar aquilo que aprendem e saibam aplicar com responsabilidade aquielo que domina, no meu caso, é comunicar.

Há carência de ciência e educação e somos a abundância que tanto cobramos. Está tudo aqui, não está lá fora. Está aí dentro. Participo da luta por um jornalismo independente, sério e respeitado nesse país.

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